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Mostrando postagens de janeiro, 2015

Trânsito do Humor

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Certa feita ocorreu que ele andava um pouco irritado. Apesar de sempre adorar viver em sociedade, tinha que admitir, às vezes a sociedade é um tanto quanto difícil e amarga para se gostar. Assim, seu humor subia e descia as ladeiras da cidade, às vezes virando em esquinas de problemas e angústias. Dependendo da vizinhança, “impossível” costumava ser a melhor descrição para a tentativa de estacionar, parar um pouco e esperar o turbilhão passar. Costumava enfrentar um trafégo. Mas sentia-se refém do tráfico de tempo. Ou da perda de tempo. Quando mais queria essa riqueza, o tempo, menos possuía. Desta forma, algumas terças foram virando segunda, depois foi a vez das quartas se transmutarem em típicas segundas. A coisa foi evoluindo, até que a própria segunda-feira virou ela mesma. E nada, ou melhor, tudo, o tirava do sério. Era comum passar logo. Porém, parecia que o sistema de escoamento do vil fluido negro que percorria as galerias de seu temperamento não estava mais dando conta do volu

A gentiliza do dia a dia.

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Gentileza. Esta bendita palavra foi pulverizada pelo uso coditano daquele provérbio urbano “gentiliza gera gentiliza”, um triplo g “ggg”. Desculpem, mas foi banalizado. Gentileza não é ideia, não é filosofia. Ela deve ser o fruto de uma relação de amor entre ação e intenção. É um hábito. Outro pedido de desculpas: desculpem-me, mas se você entrar no mesmo vagão que eu no metrô, tenha certeza, será observado. Tenho essa péssima mania de buscar inspiração no coditiano e seus detalhes. Por favor, não tentem me processar, considerem ser imortalizado em um texto como pagamento suficiente. Entrou um rapaz, de idade suficiente para ser chamado de jovem-adulto. Nem jovem o suficiente para ser adolescente, nem adulto o suficiente para ser autorresponsável. Entrou empurrando e esmurrando. Pelo menos, filosoficamente estava esmurrando. Acontece que ele queria sentar em um dos escassos bancos da composição e decidiu não esperar os antigos passageiros aportarem em sua estação-destino. Esbaforido e

A Não-Lembrança

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A lembrança do que não foi, ou do que poderia ter sido e nunca mais será, invade minha memória de uma forma que nenhum passado concreto poderá entender. Outro dia desses estava conversando com uma amiga sobre meu fim de semana. "Ah... Fiquei bem chateado. Queria ter conversado com meu irmão e ele passou dois dias de ressaca." E lá vem mais um passado não acontecido para amargar o doce sabor do que poderia ter vindo a ser. Não vamos pôr a culpa sempre no licor dos risos, no lubrificante social, como é conhecido assim o elixir etílico. Minhas casas são recheadas de quase-memórias. Bem mais novo, inventei alguma brincadeira de ver quem rodava a mochila mais rápido na sala de casa. Não lembro quem venceu a competição, mas eu e meu irmão ganhamos um bom castigo por termos quebrado um par de jarros (por sinal, este já foi um dos milhares de apelidos gêmeos que recebi, par de jarros). Coitados, eles tinham uns 16 anos na época e eram uma lembrança de alguma comemoração dos meus pais

Os Fios Desencapados

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_Calma, calma! Mas já faz tempo que não bebo... _É, mas você está bebendo desde a semana passada! _Também não é assim... Brrrrrr (arroto). _Ele morrendo e eu ficando vivo, o que me importa? Sobra mais mulher. Não que eu queira isso. _Isso o quê? _Que ele morra. _Porra! Você postou essa foto? To com uma cara de mané! Conversar típicas do bar onde estava. Eventualmente tenho o péssimo hábito de chegar na hora quando marco algo com alguém. A consequência natural disto é ficar esperando. Um pouco de Teoria dos Jogos explica. “Ele vai atrasar mesmo, vou atrasar também”. O problema todo é quando “ele” não atrasa. Pior ainda, quando o “ele” sou eu. Daí, só resta buscar distração na fauna e flora local. Sempre tem algo de interessante para anotar no meu caderninho. Havia um bêbado engraçado por perto. Ainda era muito cedo e o coitado deve ter queimado a largada, estava mais leve e alegre do que todos seus os colegas. Sendo assim, ou era prontamente ignorado ou alvo das brincadeiras iniciais do