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Mostrando postagens de junho, 2015

Sobre Poeira e Montanhas

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E foi com uma simples pergunta que tudo isto começou: “Vó, por que remoemos o passado?” E ai ela falou tudo isso: Meu filho, hoje os cafunés não serão de graça. Escute um pouco. Para mim pelo menos, coisas ruins são como poeira sob a terra. Depois de um tempo, o vento assopra e as leva para longe. Alguns traumas do passado podem ser grandes e pesados. Algumas dificuldades ou algumas tristezas podem precisar de mais do que um simples vento. Mas nunca vi uma pedra neste mundo que não pudesse ser movida pela força de uma enxurrada ou de uma tempestade. Nem que seja uma tempestade cósmica. E olhe que entendo de enxurrada. Lembra quantas vezes reconstruí minha casa? E ao levar tal poeira embora, deixa apenas a lembrança bela de uma primavera. Não que isso de primavera exista onde fomos criados. Lá ou chove ou faz Sol. E quando chove é com Sol e quando faz Sol pode até chover. Mas lá existe o Tempo sim. E o Tempo, ao assoprar o pó, deixa a apenas as montanhas. Deixa o sólido. Deixa o que fic

É um arranhar na unha

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Eita que Marinalva já era uma senhora. Dessas bem vividas. Vinha do interior brabo mas sabia ser mansa e cuidadosa. Sua família espalhou-se por ai. A Terra gira e as pessoas caminham. Ela mesmo mudara-se tanto atrás de outras vidas. Desde cedo na vida sentia uma dor estranha. Durante anos visitou médicos atrás de uma cura mas nunca ninguém encontrou o que a atormentava. De linguajar comum, nunca havia lido os livros de sintomas. Só sabia descrever o que sentia. Nem sabia direito o que era. Certo dia, um filho insistiu bastante para ela ir conversar com uma experiente senhora que ele havia conhecido em uma cidade perto. Sua experiência vinha da vida mesmo. Fazia parto, dava remédio, curava dor de cabeça. Se não fosse pela insistência, Marinalva nem teria ido. Mas como pedido de filho, depois de velho, não se nega, foi.   Disse “Boa tarde, me chamo Marinalva” para uma sorridente senhora sentada na sombra de um pé de manga. O tempo, claramente, fez estradas em na face da antiga curandeira

Cheio de Saudade

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Fim de uma tarde tímida de domingo. Um frio gostoso o faz procurar o quente de uma coberta. Tons cinzas pincelam o céu e dão um pouco de descanso para o belo azul de outros dias. Não conheço muito de “caras”, mas está na cara que algo bate em seu coração. Pouco o vejo aqui em casa. Relego-me a um canto da vida. Já o vi mais alegre, altivo. Parece-me que tirou seu carro da auto-estrada rápida da vida e trocou por uma carroça de melancolia pastorando pelas trilhas do pesar. Que exagero, não? Há alguns dias o telefone tocou. Logo depois do “alô” se sucederam três segundos de eternidade. Foi ali que percebi, algo mudou. Para quem estava acostumado a abrir as cancelas de todo o mundo e domar boi furioso apenas com um “bom dia”, só há uma coisa capaz de abater assim. Se chama saudade. Pela sua expressão facial, devia estar doendo mais do que pedrada certeira bem onde a testa faz quina com o couro cabeludo. Pena, mas não posso abraça-lo. Ou mesmo acariciar seus cabelos. Para quem não sabe, do